Cairo Santos está perfeito na temporada, 20 acertos em 20 tentativas (Foto: Tulane Athletics)
Na última segunda (19), o brasileiro Cairo Santos, da Universidade de
Tulane (Nova Orleans), foi indicado ao Lou Groza Award, prêmio dado ao
melhor kicker do futebol americano universitário.
Na atual temporada, Cairo acertou todos os seus 20 chutes, sendo 12
de mais de 40 jardas e dois para mais de 50. Se ele não errar nenhum
field goal no sábado, contra Houston, ele será o segundo kicker da
história a tentar 20 field goals ou mais e acertar todos.
Concorrendo com Cairo, aparecem Caleb Sturgis, de Florida, e Dustin
Hopkins, de Florida State. O vencedor será anunciado no dia 6 de
dezembro e você pode votar para Cairo clicando
aqui.
Em entrevista exclusiva ao
ExtraTime, Cairo contou sobre como conheceu o esporte, sua ótima temporada e as chances de ser escolhido por uma equipe da NFL no draft.
Como surgiu o interesse pelo futebol americano e a oportunidade de jogar em Tulane?
Quando estava no ensino médio, vim para a Flórida por meio de
intercâmbio e pensava em ficar um ano para conhecer a cultura do país.
Como eu sempre joguei futebol no Brasil, comecei a jogar por aqui e meus
amigos viram que eu tinha um chute forte. Aí eles me falaram que eu
poderia jogar de kicker no futebol americano. Aceitei por querer
aprender a cultura, já que eu não sabia nada sobre o jogo e não conhecia
as regras. Comecei a gostar e me disseram que tinha chance de conseguir
uma bolsa universitária. Conversei com meus pais e minha família aqui
nos EUA, as duas me apoiaram para que eu terminasse o ensimo médio por
aqui. Aí conheci um técnico que me ajudou e eu consegui a bolsa aqui em
Tulane.
Como está a ansiedade para seu último jogo, já que pode terminar a temporada sem errar nenhum field goal?
Jogando em uma equipe que não é tão grande, passamos por um grande
sufoco para avançar em campo e chegar em uma posição de field goal. E
por isso, acabei tento oportunidades de chutes tão longos. Estou em
fase muito boa, consegui me concentrar em todos os chutes e acertei
tudo. A ansiedade é grande, mas quero continuar essa boa fase e me focar
para continuar acertando. Mas o foco continua sendo pensar no próximo
chute e acertar.
Na sua última partida, você chutou um field goal que só
entrou depois de bater na trave e saiu de campo desapontado com seu
desempenho. Você já estava nervoso com isso ou foi só distração do
momento?
Para falar a verdade, eu já estava bem nervoso. Sabia que a lista dos
finalistas sairia na segunda e eu sei que não deveria ter pensado
nisso, mas senti nervosismo e os batimentos do coração subirem. Peguei
na bola de forma diferente, ela foi um pouco para a esquerda e tive
sorte dela bater na trave antes de entrar. Por isso disse que não estava
muito feliz, já que deixei minha concentração escapar. Mas estou
tentando me concentrar mais essa semana para que isso não aconteça
novamente.
Sua família brasileira acompanha sua carreira por aí?
Nossa universidade transmite os jogos pelo seu site, então criamos
uma conta e eles podem assistir de Brasília. Quando jogamos fora de
casa, não tem como eles verem. Mas eles entram em sites, olham as
estatísticas e sempre me ligam após as partidas. Eles acompanham
bastante e estarão aqui na cerimônia de premiação.
É a primeira vez que nós temos um jogador perto de um
resultado tão expressivo no futebol americano. Por mais que a NCAA não
tenha tanto espaço no Brasil, você acha que isso pode ajudar o
crescimento do esporte?
Tomara que sim, seria muito legal. Gostaria de ver algum jogo da NFL
no Maracanã, assim como eles fazem em Londres. Também sei que existem
times de futebol americano em Brasília. E tomara que possamos produzir
mais kickers que venham jogar por aqui, até porque muita gente tem
potencial para chutar bem uma bola.
Você está no terceiro ano de faculdade e já pode ir para o
draft da NFL. Você tem expectativas de tentar e ser escolhido por uma
equipe da liga profissional? Até vi você ranqueado como o 18º melhor
kicker de uma lista de 56 em um site especializado em draft.
Olha, eu não sabia disso. É uma coisa que eu ainda não pensei, mas
chegar no profissional virou um sonho e um objetivo para mim. Acho que
ainda preciso ficar mais forte e me preparar mais para fazer os testes
para a NFL. Então devo voltar para meu último ano de elegibilidade e, se
Deus quiser, ter mais uma boa temporada para tentar subir nas listas.
Cairo e Ryan Rome, seu holder, na última partida do Tulane Green Wave (Foto: Tulane Athletics)
Como funciona o treino de vocês?
Sendo kicker, é bem diferente. Todas as posições do futebol americano
têm os seus técnicos específicos e além dos treinos conjuntos, eles
fazem atividades separados. Os kickers não têm um técnico, então nossos
treinos são nós e as bolas em um dos lados do campo. O treino é
necessário, mas temos que calcular o número de chutes para não abusar e
acabar cansando a sua perna. É muito individual e precisa de muito
preparo. E não temos ninguém para nos falar o que estamos fazendo de
certo ou errado, então confiamos no outro kicker para a contagem e
ajustes. De vez em quando, ligo ou mando mensagens para o técnico que me
ensinou a chutar no ensino médio. Aí ele me fala se tem algo errado na
minha técnica ou na forma que eu chuto.
Você acha que dá para ganhar o prêmio? Fechar a temporada
como apenas o segundo kicker da história do FBS a não errar nenhum field
goal é uma grande responsabilidade, não?
Seria uma honra muito grande ser o segundo kicker a terminar uma
temporada sem perder field goals. É uma responsabilidade grande e sobe
para a cabeça, mas estou pensando é no meu próximo chute. Caso termine
sem errar nenhum, acho que tenho uma grande chance de vencer. Até porque
os outros dois kickers já erraram quatro chutes cada e os meus chutes
foram mais longos, o que aumenta a dificuldade. Então tenho que terminar
bem esse jogo.
Você acertou um field goal de 57 jardas nesta temporada, recorde de sua faculdade. É o seu maior alcance?
Ah, em treino nós sempre tentamos chutar de mais de 60, ainda mais
quando o vento está favorável. É raro tentar um chute de 65 com vento,
então focamos mais em situações de 50 jardas ou menos. Mas em dias que
estou bem, consigo chutar 65 ou 67 jardas.
E vocês jogam no Superdome, casa dos Saints, mas treinam em estádio aberto. Atrapalha muito?
Nosso treino é em estádio aberto e sempre com muito vento. Só
treinamos em dome na pré-temporada, quando vamos para o Superdome. E a
bola não vai tão longe assim nos domes, por causa do pouco ar. Mas a
trajetória do chute não é alterada.
Ao final da entrevista, Cairo perguntou se algum brasileiro já
havia sido finalista do Lou Groza Award ou entrado na NFL. Quando
informei que não, começamos a conversar e chegamos a falar de outro
kicker brasileiro, Maikon Bonani, que joga em South Florida.
Então, nossas esperanças atuais de um jogador na NFL estão divididas entre você e o Maikon. Vocês se conhecem?
Eu conheço o Maicon. Ano passado, nosso técnico de times especiais
veio de South Florida, então ele me falou mais sobre ele, já que eu já
acompanhava o trabalho dele por estatísticas. Conversamos por facebook e
ele deveria ter sido indicado ao prêmio, já que ele teve uma boa
temporada.
fonte:
http://extratime.uol.com.br/conheca-brasileiro-indicado-ao-premio-de-melhor-kicker-da-ncaa/